Muito mais do que apenas uma atividade economicamente viável — com várias formas de organização e que gera mais oportunidades de emprego e renda — a Economia Criativa oferece uma alternativa de desenvolvimento sustentável que promove a diversificação cultural e intensifica a integração entre setores econômicos e variadas dimensões da sociedade Por Carlos Mazza
É inegável que quase toda atividade humana utiliza-se de alguma forma da criatividade. Desde o trabalho dos arquitetos e designers até o fazer jornalístico, nossas ações — inseridas em um mercado exigente e altamente competitivo — são marcadas pela necessidade de desenvolver novas ideias e modelos criativos. Na sociedade da informação, que privilegia de forma inédita o surgimento de novas ideias, acompanhamos a franca expansão de uma economia que não tem freios, nem limites. E é nessa capacidade do ser humano de criar e se renovar que se baseia a chamada Indústria Criativa, um novo setor da economia que já mobiliza mais de US$ 424 bilhões anualmente, segundo um relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento — UNCTAD. Essa nova e promissora indústria é definida pelo órgão das Nações Unidas como o conjunto de atividades, baseadas no conhecimento, que produzem bens — tangíveis e intangíveis, intelectuais ou artísticos — com conteúdo criativo e valor econômico voltado para o mercado.
As atividades agregadas à indústria criativa são as mais variadas, incluindo desde artesanato e dança aos grandes grupos de distribuição de cinema e música. Unindo o uso do conhecimento e técnicas tradicionais a perspectivas contemporâneas, essas atividades vivem um momento de constante expansão. Elas representaram no ano de 2008 3,4% de todo o comércio mundial, e alcançaram níveis de crescimento de 8,7% entre 2000 e 2008, ainda segundo o relatório da UNCTAD. Essa realidade também se aplica ao Brasil, onde, segundo estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro — FIRJAN — essas atividades movimentam todo ano mais de R$ 381 bilhões — representando 16,4% do PIB nacional — e ocupam 21,8% da força de trabalho formal do país, com mais de sete milhões de brasileiros empregados formalmente no setor.
A delimitação da área é recente, com o conceito de “Economia Criativa” aparecendo pela primeira vez em 1994, no relatório Creative Nation — Nação Criativa, em português — uma iniciativa do Ministério da Cultura da Austrália. A inovadora definição australiana obteve grande repercussão entre os meios acadêmicos e econômicos do mundo, se estendendo em 1997 para os países do Reino Unido. Hoje ela funciona como modelo de educação, exportado e seguido internacionalmente. Um exemplo de país que segue esse modelo australiano é a China, que assumiu o posto de maior produtor e exportador de produtos criativos do mundo no ano de 2005.
A experiência australiana não parou no relatório de 1994. Em associação com empresas, universidades e governos local e estadual, o governo australiano promoveu a criação do Creative Industries Precint, um distrito dedicado à experimentação e ao desenvolvimento comercial de novas indústrias criativas. Esse distrito fica situado em Brisbane, capital do estado do Queensland, no nordeste da Austrália. Funcionando como um bairro criativo a mais de dez anos, a Kelvin Grove Urban Village já se consolidou na sociedade australiana como um celeiro de novas ideias, atraindo todos os anos centenas de empreendedores, pesquisadores, designers e artistas de todas as regiões do globo.
O Creative Industries Precint é um exemplo de organização criativa para o desenvolvimento. O distrito é munido de aparelhos governamentais para a difusão e o desenvolvimento de novos negócios criativos, além de contar com centros de pesquisa técnica e acadêmica. Outro destaque é o Creative Enterprise Austrália, projeto mantido pela Queensland University of Technology que funciona como uma incubadora de empresas — fornecendo consultoria em negócios criativos, fomentando empresas em estágios iniciais e realizando a capacitação de profissionais para o mercado, entre outros eventos que envolvem a transferência de conhecimentos.
Sucesso
A experiência australiana chamou a atenção de outros países. No Brasil, a economia criativa foi tema do XX Fórum Nacional, realizado em São Paulo no ano de 2008. Os projetos apresentados no evento centraram-se no futuro dessa atividade e visavam um enfoque na inovação, para superar as taxas de crescimento de outros países emergentes. No Ceará, um grupo de pesquisadores liderados pela Dra. Cláudia Leitão, ex-Secretária de Cultura do estado do Ceará, e pelo professor Luiz Antônio Gouveia, pesquisador do Grupo de Pesquisa sobre Políticas Públicas e Indústrias Criativas da Universidade Estadual do Ceará, busca a realização de um congresso internacional, marcado para ocorrer entre os dias 8 e 10 de dezembro, sobre o tema, com enfoque no uso da Economia Criativa como alternativa de desenvolvimento para o nordeste.
A experiência australiana chamou a atenção de outros países. No Brasil, a economia criativa foi tema do XX Fórum Nacional, realizado em São Paulo no ano de 2008. Os projetos apresentados no evento centraram-se no futuro dessa atividade e visavam um enfoque na inovação, para superar as taxas de crescimento de outros países emergentes. No Ceará, um grupo de pesquisadores liderados pela Dra. Cláudia Leitão, ex-Secretária de Cultura do estado do Ceará, e pelo professor Luiz Antônio Gouveia, pesquisador do Grupo de Pesquisa sobre Políticas Públicas e Indústrias Criativas da Universidade Estadual do Ceará, busca a realização de um congresso internacional, marcado para ocorrer entre os dias 8 e 10 de dezembro, sobre o tema, com enfoque no uso da Economia Criativa como alternativa de desenvolvimento para o nordeste.
Entre os maiores obstáculos para esse desenvolvimento maior da indústria criativa do Brasil está, segundo a Dra. Cláudia Leitão, a dificuldade de se vencer os fortes índices de exclusão cultural que existem no país. “O preço médio do livro de leitura corrente é de R$ 25, elevadíssimo quando se compara com a renda do brasileiro nas classes C, D e E”, diz a pesquisadora. O grupo tem como objetivo maior realizar a construção de um projeto governamental, baseado no modelo de desenvolvimento australiano, que possua políticas públicas para efetivar o crescimento da economia criativa no país.
As razões para o desenvolvimento de uma economia criativa no Brasil são as mais diversas, e os benefícios seriam imediatos. Para Cláudia Leitão, o crescimento das indústrias criativas no país promoveria uma redução da desigualdade, o que seria, na opinião da pesquisadora, muito melhor para a redução da pobreza do que apenas o desenvolvimento econômico. A economia criativa também tem ligações diretas com o desenvolvimento sustentável, atual palavra-chave da economia mundial. “A economia deve ser repensada. Vivemos em uma economia que se baseia em recursos não-renováveis, e a criatividade humana é infinita”, diz Luciana Guilherme, pesquisadora do Grupo de Pesquisa sobre Políticas Públicas e Indústrias Criativas.
fonte:revista fale
Nenhum comentário:
Postar um comentário