Sou um covarde. Um frouxo de dar pena. Talvez, incorrigível. Tudo por enxergar a mulher – entre outras qualidades – como sujeito de direitos. Ao menos é a definição que cabe a este pobre diabo no pensamento de Luiz Felipe Pondé, ícone da nova direita nacional, um Olavo de Carvalho de All Star.
Em artigo publicado na última segunda-feira, o filósofo voltou a investir contra moinhos de patrulhas do politicamente correto que alega o perseguirem. E saiu com esta: “Mulher não gosta de covarde, mesmo que seja covarde em nome dos ‘direitos femininos’”.
As aspas sobre os direitos femininos, suponho, questionam sua validade. Tá. Ocorre que, na mesma segunda, a realidade deu as caras sobre a situação da mulher no Brasil, com a divulgação de uma pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc . O estudo aponta que, a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no país. Chocante? Há dez anos, eram oito as mulheres espancadas no mesmo intervalo.
A semana também foi marcada pela divulgação de um vídeo que mostra delegados da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo tirando à força a calça e a calcinha de uma escrivã durante revista, suspeita de receber propina. A agressão ocorreu em 2009, mas veio à tona somente agora. Ao longo de 12 minutos do vídeo, a escrivã diz que os delegados poderiam revistá-la, mas só retiraria a roupa para policiais femininas. Em vão. As cenas são revoltantes para um “covarde” como eu. O governador Geraldo Alckmin também se indignou, não com os meganhas, mas com a divulgação do vídeo! Somente dias depois de intensa repercussão, tomaria alguma providência.
Minha “covardia” também me incapacitaria de taxar a Lei Maria da Penha de coisa do tinhoso, como fez o juiz – isso, juiz – Edilson Rodrigues. Afastado do cargo pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e reconduzido ao cargo nesta semana por decisão do ministro do STF Marco Aurélio Mello, o magistrado acha que “a desgraça humana” começou por causa da mulher, para quem o mais importante na vida deveria ser, em vez de emancipação, a realização “como um ser feminino”.
Natural, argumentaria o filósofo. Afinal, como afirma, “as mulheres brasileiras são como dizem os franceses ‘femmes aux hommes’ (mulheres para os homens)”. Aqui, a generalização não é engano. É intencional. Uma resistência a direitos postos em debate, que revela saudosismo de quem lamenta que os aeroportos brasileiros estejam repletos de pobres – “parece uma rodoviária” é o atual mantra de recalcados de classe média arriba.
Mas a vida segue. E neste verão vai no embalo da totalmente hit “Minha Mulher Não Deixa Não”, do bardo pernambucano da dor de cotovelo Reginho.
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