PARA NÃO ESQUECER JAMAIS
Por :Vanderley - Revista
ÁUREA ELIZA PEREIRA (1950–1974)
Filiação: Odila Mendes Pereira e José Pereira
Data e local de nascimento: 06/04/1950, Monte Belo (MG)
Organização política ou atividade: PCdoB
Data do desaparecimento: 13/06/1974
Áurea passou a infância com sua família na Fazenda da Lagoa, município de Monte Belo, no sul de Minas Gerais, onde seu pai era administrador.
Entre os 6 e os 14 anos, estudou no Colégio Nossa Senhora das Graças, em Areado, concluindo ali o curso ginasial. Mudou-se em 1964 para o Rio de Janeiro e foi cursar o segundo
grau no Colégio Brasileiro, em São Cristóvão. Aos 17 anos, prestou vestibular para o Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde pretendia se especializar em
Física Nuclear.
Na Universidade, participou do Movimento Estudantil no período de 1967 a 1970, tendo sido membro do Diretório Acadêmico de sua escola, juntamente com Antônio de Pádua Costa
e Arildo Valadão, ambos também desaparecidos no Araguaia. Áurea casou-se com Arildo Valadão no dia 06/02/1970, no Rio de Janeiro e, no dia seguinte, realizou a cerimônia religiosa
na Basílica de Aparecida do Norte, em São Paulo. No segundo semestre de 1970, mudou-se junto com Arildo e Antônio de Pádua para o Araguaia, sendo os três militantes do PCdoB,
indo viver na região de Caianos. Ali trabalhou como professora e ingressou no Destacamento C, comandado por Paulo Mendes Rodrigues.
No início de 1974, já viúva de Arildo, foi vista no 23° Batalhão de Infantaria da Selva, pelo preso Amaro Lins, ex-militante do PCdoB, que prestou depoimento sobre isso no 4° Cartório
de Notas de Belém (PA). Amaro relata também que ouviu um policial dizer a Áurea que arrumasse suas coisas, pois iria “viajar”. Viajar era o termo utilizado por policiais para designar
execução.
No relatório do Ministério da Marinha consta como, “morta em 13/06/74”. O Relatório do Exército não fala na morte, mas informa que “Durante a guerrilha do Araguaia, chefiou um
grupo de terroristas armados de revólveres cal.38 e espingardas cal.20 que participou, em 4 AGO 73, de uma festa na Fazenda Sapiência”. Segundo depoimento de uma moradora
de Xambioá, que não quis se identificar, Áurea teria sido vista sem vida na delegacia da cidade e seu corpo estaria enterrado no cemitério local.
Em Operação Araguaia, os jornalistas Taís Morais e Eumano Silva descrevem: “Querida por todos, trabalhou como professora no povoado de Boa Vista e esbanjava simpatia. Dois
mateiros a prenderam no início de 1974 e a entregaram à repressão. Amarrada, muito magra, faminta e doente, vestia apenas um pedaço de sutiã. As roupas rasgaram em meses
seguidos de fuga pela mata úmida e cheia de espinhos. Foi encontrada junto com Batista, morador da região recrutado pela guerrilha, também debilitado pelas dificuldades de
sobrevivência na mata. Áurea foi vista viva, depois de presa, na base de Xambioá”.
Elio Gaspari, descrevendo o mecanismo de recompensas em dinheiro para quem matasse guerrilheiros, apresenta em A Ditadura Escancarada mais uma importante informação:
“Adalberto Virgulino, que capturou a guerrilheira Áurea (Áurea Eliza Valadão), recebeu oitocentos cruzeiros e um maço de cigarros”.
Hugo Studart aponta outra data para a morte de Áurea, com base no Dossiê Araguaia, mas acrescenta novos dados: “Dossiê registra sua morte a 1 JAN 74. Um militar que a
interrogou relata que teria ocorrido debate entre os militares sobre a necessidade de executá-la. Ao final, decidiu-se cumprir a ordem de Brasília de não deixar nenhum
guerrilheiro sair da região, mesmo que já não oferecesse perigo para o regime, como alguns militares avaliavam o caso de Áurea”.
Em 18 e 19 de março de 2004, o jornalista Adriano Gaieski, da Agência Brasil, produziu matéria sobre novos depoimentos tomados de moradores da região pelo Ministério Público
Federal, com as seguintes informações: “A terceira testemunha, cujo nome o Ministério Público Federal manteve em sigilo, foi identificada apenas como Ferreira. (...) ele
confirmou os maus tratos sofridos pelos soldados, a violência e as execuções sumárias sofridas pelos guerrilheiros. O ex-militar contou ao procurador Adrian Pereira Ziemba ter
visto a chegada, na base militar, de Áurea Eliza Pereira Valadão, 24 anos.(...) Conforme Ferreira, Áurea foi torturada durante todo um dia e uma noite. No dia seguinte, os
militares a colocaram num helicóptero e ela nunca mais foi vista”.
O relatório já mencionado, produzido em 28/01/2002 por quatro procuradores do Ministério Público Federal que visitaram a região, reforça a mesma informação: “Áurea: Áurea Elisa
Pereira Valadão, presa, junto com Batista, na casa de uma moradora da região, onde iam comer diariamente. Teria sido levada para a base de Xambioá, onde foi vista”.
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+ Informações.
ÁUREA ELIZA PEREIRA VALADÃO
Militante do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B).
Filha de José Pereira e Odila Mendes Pereira, nasceu em Areado, Sul de Minas, no
dia 6 de abril de 1950.
Desaparecida na Guerrilha do Araguaia aos 24 anos.
Sua família morava na Fazenda da Lagoa, município de Monte Belo, onde seu pai era
administrador e, por isso, Áurea Eliza teve que ir, muito cedo, para o internato.
Afetiva e risonha manteve, sempre, um bom relacionamento com a família, durante sua
infância e adolescência.
Aluna bastante aplicada, estudou, dos 6 aos 14 anos, no Colégio Nossa Senhora das Graças,
em Areado, onde concluiu o curso ginasial.
Segundo depoimento de uma colega daquele tempo, Áurea Eliza exercia grande
liderança no colégio, mantendo ótimas relações com as colegas, participando das
atividades escolares, tendo sido brilhante aluna em matemática.
Mudou-se, em 1964, para o Rio de Janeiro para cursar o 2° grau no Colégio Brasileiro, em
São Cristóvão, morando com sua irmã Iara, com quem tinha laços muito estreitos e
afetuosos.
Prestou vestibular, aos 17 anos, para o Instituto de Física da UFRJ, em 1967, onde
pretendia estudar Física Nuclear. Por não ter ainda 18 anos, precisou de uma autorização
especial de seu pai, para que pudesse fazer aquele curso.
Participou intensamente do movimento estudantil no período de 1967 a 1970, tendo
sido membro do Diretório Acadëmico de sua escola, juntamente com Antônio de Pádua
Costa e Arildo Valadão, ambos desaparecidos.
Áurea Eliza casou- se com Arildo Valadão no dia 6 de fevereiro de 1970, num cartório do
Rio de Janeiro e, no dia seguinte, na Basílica de Aparecida do Norte, em São Paulo.
Mudou-se junto com Arildo e Antônio de Pádua para o Araguaia, no segundo
semestre de 1970, indo viver na região de Caianos, onde passou a trabalhar como
professora e ingressou no destacamento C das Forças GuerriIheiras, cujo comandante era
Paulo Mendes Rodrigues.
No Araguaia era conhecida também por Eliza.
O "Cordel da Guerrilha do Araguaia", de autoria de D. Nonato da Rocha assim se referiu a
ela:
"Áurea era professora
E decidiu improvisar
Duma tapera, uma escola
Prá criançada estudar
Ela nada cobrava
Ensinava e brincava
Com as crianças do lugar."
No período em que viveu no Rio de Janeiro, Áurea Eliza correspondia-se,
regularmente, com seus pais.
Numa época onde o medo e as perseguições eram constantes, seus familiares
deixaram de receber notícias.
Consta que Áurea Eliza teria sido presa em Marabá, em 1973, estando desaparecida
desde 1974.
Seus pais faleceram sem que nenhuma notícia lhes fosse dada sobre seu paradeiro.
No início do ano de 1974 foi vista viva e em bom estado de saúde, no 23° Batalhão
de Infantaria da Selva, pelo preso Amaro Lins que prestou estas declarações no 4° Cartório
de Notas de Belém/PA. Amaro relata também que ouviu um policial dizer-lhe que
arrumasse suas coisas pois iria viajar. (Viajar – termo utilizado para designar execução)
Segundo depoimento de uma moradora de Xambioá, que não quis se identificar,
Áurea foi vista morta na delegacia da cidade e seu corpo estaria enterrado no cemitério
local.
Em 1991, familiares de mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia estiveram
neste cemitério junto com a CJP e a equipe de legistas da UNICAMP. Nesta ocasião foram
exumadas duas ossadas, uma de um negro, provavelmente Francisco Manoel Chaves
(desaparecido) e outra de uma mulher, jovem, cujo corpo estava enrolado num pano de
pára-quedas, com a identificação arrancada, que poderia ser de Áurea ou de Maria Lúcia
Petit, também guerrilheira, desaparecida no Araguaia. Essas ossadas permanecem na
UNICAMP para identificação.
O Relatório do Ministério da Marinha dá como data da morte de Áurea 13 de junho
de 1974, sem mais informações.
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+ detalhes
ÁUREA ELIZA PEREIRA (1950-1974)
Áurea passou a infância com sua família na fazenda da Lagoa, no município de Monte Belo, no sul de Minas Gerais, da qual seu pai era administrador. Entre os 6 e os 14 anos, estudou no Colégio Nossa Senhora das Graças, em Areado, concluindo ali o curso ginasial. Mudouse em 1964 para o Rio de Janeiro, onde cursou o segundo grau no Colégio Brasileiro, em São Cristóvão. Aos 17 anos, prestou vestibular para o Instituto de Física da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde pretendia se especializar em física nuclear. Entre 1967 e 1970, participou ativamente do movimento estudantil nessa faculdade, chegando a ser membro do Diretório Acadêmico, juntamente com Antônio de Pádua Costa e Arildo Valadão, ambos também militantes do PCdoB e desaparecidos no Araguaia. Áurea casou-se com Valadão em 6 de fevereiro de 1970, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, realizou a cerimônia religiosa na basílica de Aparecida do Norte, em São Paulo. No segundo semestre do mesmo ano, mudou-se com Arildo e Antônio de Pádua para o Araguaia. Com o marido, foi viver na região de Caianos. Ali trabalhou como professora, integrando o Destacamento C, comandado por Paulo Mendes Rodrigues. No início de 1974, após a morte de Arildo, foi vista no 23o Batalhão de Infantaria da Selva pelo preso Amaro Lins, ex-militante do PCdoB, que prestou depoimento sobre isso no 4o Cartório de Notas de Belém (PA). Amaro relata também que ouviu um policial dizer a Áurea que arrumasse suas coisas, pois iria “viajar”. Viajar era o termo utilizado por policiais para designar execução.Em Operação Araguaia, os jornalistas Taís Morais e Eumano Silva descrevem: “Querida por todos, trabalhou como professora no povoado de Boa Vista e esbanjava simpatia. Dois mateiros a prenderam no início de 1974 e a entregaram à repressão. Amarrada, muito magra, faminta e doente, vestia apenas um pedaço de sutiã. As roupas rasgaram em meses seguidos de fuga pela mata úmida e cheia de espinhos. Foi encontrada junto com Batista, morador da região recrutado pela guerrilha, também debilitado pelas difi culdades de sobrevivência na mata. Áurea foi vista viva, depois de presa, na base de Xambioá”. Elio Gaspari, descrevendo o mecanismo de recompensas em dinheiro para quem matasse guerrilheiros, apresenta em A ditadura escancarada mais uma importante informação: “Adalberto Virgulino, que capturou a guerrilheira Áurea (Áurea Eliza Valadão), recebeu oitocentos cruzeiros e um maço de cigarros”. O ex-militar contou ao procurador Adrian Pereira Ziemba ter visto a chegada, na base militar, de Áurea Eliza Pereira Valadão, 24 anos. [...] Conforme Ferreira, Áurea foi torturada durante todo um dia e uma noite. No dia seguinte, os militares a colocaram num helicóptero e ela nunca mais foi vista”.
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+ detalhes
Áurea e Lia passaram pela base antes da execução
ESTUDANTES Áurea (à esq.) e Lia: revolta e choro |
Em maio, o helicóptero trouxe para a base uma moça baixa, bonita, de cabelos castanho-claros, coberta com um vestido puído. Áurea Eliza Pereira Valadão, de 24 anos, tinha sido presa carregando um revólver imprestável. Estudante de Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro, estava no Araguaia desde 1970 com o marido, o guerrilheiro Arildo Valadão, também morto. ''Ela era rebelde'', lembra o ex-soldado Elias de Oliveira. Áurea falava pouco, mas sempre que podia xingava os militares. Cuspiu no rosto de um oficial quando comia no refeitório. ''Eu fui dar água pra ela e falei: 'Estou aqui pra te ajudar'. Mas ela só xingava. Até me chutou'', lembra outro soldado, Antônio Fonseca. Ficou só três dias na base. Foi levada de helicóptero e nunca mais voltou.
(trecho sobre a Guerrilha do Araguaia, publicado na revista Época de 15/9/2009)atualizada.
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+ detalhes
Assassinadas no meio do mato
Áurea e Lia passaram pela base antes da execução
LEANDRO LOYOLA
Em maio, o helicóptero trouxe para a base uma moça baixa, bonita, de cabelos castanho-claros, coberta com um vestido puído. Áurea Eliza Pereira Valadão, de 24 anos, tinha sido presa carregando um revólver imprestável. Estudante de Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro, estava no Araguaia desde 1970 com o marido, o guerrilheiro Arildo Valadão, também morto.
''Ela era rebelde'', lembra o ex-soldado Elias de Oliveira. Áurea falava pouco, mas sempre que podia xingava os militares. Cuspiu no rosto de um oficial quando comia no refeitório. ''Eu fui dar água pra ela e falei: 'Estou aqui pra te ajudar'. Mas ela só xingava. Até me chutou'', lembra outro soldado, Antônio Fonseca. Ficou só três dias na base. Foi levada de helicóptero e nunca mais voltou.
Quatro meses depois, no final da tarde de 7 de setembro, chegou Lia. Estudante de Geografia, ela estava na luta havia três anos com o marido, Elmo Corrêa, estudante de Medicina. Já viúva, Lia foi presa junto com a guerrilheira Dinalva Oliveira Teixeira, a Dina, em São Geraldo, às margens do Rio Araguaia.
Lia desceu do helicóptero encapuzada. Foi amarrada em um pau atrás da casa de comando da base. À meia-noite, depois do interrogatório dos oficiais, o soldado Raimundo Pereira foi chamado para montar guarda. ''Ela chorava muito'', conta ele. Até as 4 horas da manhã, Lia só conseguiu cochilar um pouco. Pediu água, contou que era estudante e disse ser solteira. Depois suplicou para Raimundo amarrá-la sentada. Dormiu com a cabeça para trás. Na manhã do dia 8 foi encapuzada de novo e escoltada por dois soldados até a pista de pouso, onde entrou em um helicóptero. Meia hora depois o helicóptero voltou. Sem ela.
''Ela era rebelde'', lembra o ex-soldado Elias de Oliveira. Áurea falava pouco, mas sempre que podia xingava os militares. Cuspiu no rosto de um oficial quando comia no refeitório. ''Eu fui dar água pra ela e falei: 'Estou aqui pra te ajudar'. Mas ela só xingava. Até me chutou'', lembra outro soldado, Antônio Fonseca. Ficou só três dias na base. Foi levada de helicóptero e nunca mais voltou.
Quatro meses depois, no final da tarde de 7 de setembro, chegou Lia. Estudante de Geografia, ela estava na luta havia três anos com o marido, Elmo Corrêa, estudante de Medicina. Já viúva, Lia foi presa junto com a guerrilheira Dinalva Oliveira Teixeira, a Dina, em São Geraldo, às margens do Rio Araguaia.
Lia desceu do helicóptero encapuzada. Foi amarrada em um pau atrás da casa de comando da base. À meia-noite, depois do interrogatório dos oficiais, o soldado Raimundo Pereira foi chamado para montar guarda. ''Ela chorava muito'', conta ele. Até as 4 horas da manhã, Lia só conseguiu cochilar um pouco. Pediu água, contou que era estudante e disse ser solteira. Depois suplicou para Raimundo amarrá-la sentada. Dormiu com a cabeça para trás. Na manhã do dia 8 foi encapuzada de novo e escoltada por dois soldados até a pista de pouso, onde entrou em um helicóptero. Meia hora depois o helicóptero voltou. Sem ela.
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