Apresentação

O grupo de gênero se insere na discussão do poder de uma sociedade machista e ter um marco emancipatório para a participação política das mulheres, tendo-as como sujeito. Debatendo o cotidiano, as relações familiares e/ou privadas, às relações institucionais da economia, da política e da cultura e suas dimensões objetivas e subjetivas simultaneamente. Este GT reúne os pontos de cultura que atuam na perspectiva da emancipação feminina, na luta contra a opressão e a violência contra as mulheres e pela afirmação da igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Ombro a ombro com as mais ardorosas combatentes do sexismo e do machismo, ela jamais deixou de pautar, entre as reivindicações prioritárias, o combate ao racismo


Por: OSWALDO FAUSTINO
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Muito cedo, a antropóloga, educadora e feminista mineira, Lélia Gonzales aprendeu que, na luta dos movimentos sociais, também existem castas e hierarquias. Por isso, questões específicas como as das mulheres negras, eram subestimadas em favor do chamado "interesse maior". Assim como ocorria nas fotografias da liderança do Movimento Feminista, com as militantes negras, suas reivindicações também eram mantidas na segunda ou na terceira fila. A fidelidade às causas que abraçou - em especial a do feminismo e das relações raciais - foi a principal marca dessa ativista que, em 19 de julho de 1994, aos 59 anos, se transformou em ancestral. Mineira, nascida Lélia Almeida, em Belo Horizonte, ainda criança, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde foram viver na favela do Morro do Pinto, no Santo Cristo, junto ao Leblon. A proximidade com o Clube de Regatas Flamengo deu a um dos irmãos mais velhos, Jaime de Almeida, a oportunidade de se tornar jogador de futebol desse time e posteriormente seu técnico. Não é à toa que, flamenguista roxa, tinha o futebol como um de seus grandes prazeres. Era a penúltima dos 18 filhos e filhas do ferroviário negro Acácio Joaquim de Almeida, com a índia Urcinda Seraphina de Almeida.
Um exílio após o outro
Ser retirado de suas antigas moradias, mesmo que precárias, e empurrados para locais menos valorizados, é sina da população negra nos grandes centros urbanos. Das áreas centrais, consideradas nobres, para os morros e, desses, para as periferias e subúrbios, como a Baixada Fluminense. Com a família Almeida não foi diferente: do Morro do Pinto direto para o subúrbio de Ricardo de Albuquerque, loteamento das antigas terras do Engenho Nossa Senhora de Nazaré.
Muito tempo depois, na obra Lugar de Negro, que lançou em 1982, com Carlos Hasenbalg, pela editora Marco zero, Lélia escreveu: "O lugar natural do grupo branco dominante são moradias amplas, espaçosas, situadas nos mais belos recantos da cidade ou do campo e devidamente protegidas por diferentes tipos de policiamento: desde os antigos feitores, capitães do mato, capangas, etc., até a polícia formalmente constituída. Desde a casa grande e do sobrado, aos belos edifícios e residências atuais, o critério tem sido sempre o mesmo. Já o lugar natural do negro é o oposto, evidentemente: da senzala às favelas, cortiços, porões, invasões, alagados e conjuntos habitacionais, cujos modelos são os guetos dos países desenvolvidos dos dias de hoje. O critério também tem sido simetricamente o mesmo: a divisão racial do espaço."
As constatações de opressão e exclusão de seu povo não fizeram dela uma pessoa amarga. Ao contrário. Com seu riso franco, aberto e fácil, buscava o colorido de nossa cultura, o que a levou a escrever Festas Populares no Brasil, lançado pela Editora Index, em 1987, e premiado na Feira Internacional do Livro, de Leipzig, Alemanha, entre as obras que compõem "os mais belos livros do mundo".
Formação e militância
A distância e a precariedade dos trens da Central do Brasil não foram impedimento para a menina Lélia estudar. Tampouco de se destacar entre os alunos do tradicional Colégio Pedro II. Posteriormente, graduou-se em História, Geografia e Filosofia. Fez mestrado em comunicação e doutorado em antropologia. Já adotara o sobrenome Gozales - por meio do casamento - quando atuava como assistente no curso de Filosofia, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Dali para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi um pulo. Sua simpatia pelos pensamentos de esquerda tornou-se irrelevante, diante dos seus conhecimentos, da capacidade intelectual e da comunicabilidade que motivaram o convite para ministrar cursos no Centro de Estudos de Pessoal, do Exército Brasileiro. Tudo isso em plena ditadura militar.
Muito tempo antes de se imaginar que, um dia, um presidente da república brasileira assinaria a Lei 10.639/03, que modificaria a Lei de Diretrizes e Base do ensino, no país, Lélia já combatia, em sala de aula, a opressão e exclusão de nosso povo. Aprofundava-se nos escritos de grandes pensadores negros daqui, dos Estados Unidos e da África; na história de civilizações africanas e de suas lideranças, nos conhecimentos mais elementares da cultura afro-brasileira. Assim, modificava os paradigmas no imaginário de seus alunos e fortalecia as bases da militância do movimento negro contemporâneo, no período de sua eclosão, na década de 1970.
"MUITO TEMPO ANTES DE SE IMAGINAR QUE, UM DIA, UM PRESIDENTE DA REPÚBLICA BRASILEIRA ASSINARIA A LEI 10.639/03, QUE MODIFICARIA A LEI DE DIRETRIZES E BASE DO ENSINO, NO PAÍS, LÉLIA JÁ COMBATIA, EM SALA DE AULA, A OPRESSÃO E EXCLUSÃO DE NOSSO POVO".
Onde o povo está
Enquanto alguns de nossos intelectuais se afastam do povo para vivenciar o glamour e a badalação dos "bem-nascidos" e do universo acadêmico, como uma verdadeira griô, fiel à tradição da oralidade africana, Lélia compartilhava com seu povo histórias que valorizavam nossas origens e produção cultural. Mesmo sendo professora e chefe do Departamento de Sociologia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, tinha certeza de onde e com quem queria atuar. Numa entrevista à Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos (SEAF) afirmou: "Fiz um tipo de escolha, que foi a militância de rua, participando de organizações negras, de seminários. Na medida em que nós, os intelectuais negros orgânicos, somos tão poucos, realmente existe um grande leque de atividades para poder responder às exigências que nos são colocadas." Porém, não fugia da raia e ocupava os espaços com sua sabedoria, por exemplo, com o pioneiro curso Cultura Negra no Brasil, que ministrou, por dois anos, na Escola de Artes Visuais, do Parque Lage, escola carioca considerada de elite.
Integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, não abandonou, em momento algum, as demais demandas urgentes como a dos afro-brasileiros e dos homossexuais, que constavam em sua plataforma de campanhas para deputada federal, em 1982, pelo PT, e de deputada estadual, em 1986, pelo PDT. Em ambos, ficou como suplente. Porém foi vitoriosa no campo da criação coletiva de organizações, entre elas, o Movimento Negro Unificado, a Escola de Samba do Quilombo, o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), o Nzinga Coletivo de Mulheres Negras, no Rio de Janeiro; e o Olodum, na Bahia. Seu nome se perpetua em algumas instituições como o Instituto de Educação, Arte e Estudos Afro-Brasileiros Lélia Gonzalez.
Por meio da publicação de suas palestras e de debates dos quais participou, foi se cunhando o termo amefricanidade, que se baseia nas experiências diaspóricas, ou seja, a dos descendentes de africanos não só no Brasil, mas em todas as Américas. Ao ler Lélia Gonzales, se tem a certeza de que as diferenças culturais de nossa gente, do lado de cá do Atlântico, são minúsculas, diante de tudo o que temos em comum.


Fonte: Raça

Uma em cada quatro mulheres sofre violência no parto

Andrea Dip - Agência Pública 25.03.2013 - 14h14 | Atualizado em 25.03.2013 - 16h17

As agressões mais comuns, segundo estudo, são gritos, procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação, falta de analgesia e até negligência (Foto: Agência Pública)
O conceito internacional de violência obstétrica define qualquer ato ou intervenção direcionado à mulher grávida, parturiente ou puérpera (que deu à luz recentemente), ou ao seu bebê, praticado sem o consentimento explícito e informado da mulher e/ou em desrespeito à sua autonomia, integridade física e mental, aos seus sentimentos, opções e preferências. A pesquisa “Mulheres brasileiras e Gênero nos espaços público e privado”, divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, mostrou que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto. As mais comuns, segundo o estudo, são gritos, procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação, falta de analgesia e até negligência.

Mas há outros tipos, diretos ou sutis, como explica a obstetriz e ativista pelo parto humanizado Ana Cristina Duarte: “impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência, tratar uma mulher em trabalho de parto de forma agressiva, não empática, grosseira, zombeteira, ou de qualquer forma que a faça se sentir mal pelo tratamento recebido, tratar a mulher de forma inferior, dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos, submeter a mulher a procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal, raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas, submeter a mulher a mais de um exame de toque, especialmente por mais de um profissional, dar hormônios para tornar o parto mais rápido, fazer episiotomia sem consentimento”.




“A lista é imensa e muitas nem sabem que podem chamar isso de violência. Se você perguntar se as mulheres já passaram por ao menos uma destas situações, “A lista é imensa e muitas nem sabem que podem chamar isso de violência. Se você perguntar se as mulheres já passaram por ao menos uma destas situações, provavelmente chegará a 100% dos partos no Brasil” diz Ana Cristina, que faz parte de um grupo cada vez maior de mulheres que, principalmente através de blogs e redes sociais, têm lutado para denunciar a violência obstétrica tão rotineira e banalizada nos aparelhos de saúde. “Algumas mulheres até entendem como violência, mas a palavra é mais associada a violência urbana, fisica, sexual” diz a psicóloga Janaína Marques de Aguiar, autora da tese “Violência institucional em maternidades públicas: hostilidade ao invés de acolhimento como uma questão de gênero” que entrevistou puérperas (com até três meses de parto) e profissionais de maternidades públicas de São Paulo. “Quando a gente fala em violência na saúde, isso fica dificil de ser visualizado. Porque há um senso comum de que as mulheres podem ser maltratadas, principalmente em maternidades públicas” acredita. E dá alguns exemplos: “Duas profissionais relataram, uma médica e uma enfermeira, que um colega na hora de fazer um exame de toque em uma paciente, fazia brincadeiras como ‘duvido que você reclame do seu marido’ e ‘Não está gostoso?”provavelmente chegará a 100% dos partos no Brasil” diz Ana Cristina, que faz parte de um grupo cada vez maior de mulheres que, principalmente através de blogs e redes sociais, têm lutado para denunciar a violência obstétrica tão rotineira e banalizada nos aparelhos de saúde.
“Algumas mulheres até entendem como violência, mas a palavra é mais associada a violência urbana, fisica, sexual” diz a psicóloga Janaína Marques de Aguiar, autora da tese “Violência institucional em maternidades públicas: hostilidade ao invés de acolhimento como uma questão de gênero” que entrevistou puérperas (com até três meses de parto) e profissionais de maternidades públicas de São Paulo. “Quando a gente fala em violência na saúde, isso fica dificil de ser visualizado. Porque há um senso comum de que as mulheres podem ser maltratadas, principalmente em maternidades públicas” acredita. E dá alguns exemplos: “Duas profissionais relataram, uma médica e uma enfermeira, que um colega na hora de fazer um exame de toque em uma paciente, fazia brincadeiras como ‘duvido que você reclame do seu marido’ e ‘Não está gostoso?”


Leia também:
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debate

terça-feira, 19 de março de 2013

Como abordar mulheres sem ser nojento

Texto de Madeleine Davies. Tradução de Iara Paiva.
Originalmente publicado com o título: How to Talk to a Woman Without Being a Creep, no site americano Jezebel.com
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Com mais e mais mulheres falando abertamente sobre assédio nas ruas, um homem hétero pode ficar um pouco confuso sobre como se aproximar de uma mulher em um local público. “Quer dizer que as mulheres não gostam quando eu tiro seus fones de ouvido no metrô?” ele poderia perguntar. “E se eu ficar muito perto? Elas também não gostam? Não se pode nem falar com ninguém sem ser rotulado como predador sexual mais! Dane-se o Feminismo!”
Se você se comporta desse jeito, então sim. Você é um idiota e provavelmente não deveria falar com ninguém. Nunca mais. Mas vamos supor que você é apenas um cara legal que ainda não consegue entender a melhor maneira de falar com uma mulher desconhecida em um espaço público. É ok ter dúvidas. Namoro e paquera são, em geral, coisas difíceis de fazer e ainda mais complicadas quando você toma a iniciativa e se apresenta para alguém do nada. Mas adivinhem? É possível aproximar-se de uma mulher de uma forma respeitosa e lisonjeira, sem ofendê-la ou assustá-la com a possibilidade de você ser um tarado no metrô.
Quando a melhor abordagem não é óbvia, nem sempre é fácil de discernir o que é bom e o que não é. Pelo bem das relações humanas, aqui está um guia prático sobre como abordar uma mulher em várias situações.
Na rua
Vamos começar com o mais difícil. Digamos que você vê uma menina na rua que se parece exatamente com Amy Pond de Doctor Who [N.T. se você não a conhece, preencha com a moça bonita e cult de sua preferência] ou que está vestindo uma camiseta da sua banda de hardcore obscura dos anos 80 preferida. Você quer dizer “oi!”, claro, mas, primeiro tente descobrir se ela quer dizer “olá” para você ou para qualquer outra pessoa. Você pode achar impossível saber isso, mas as mulheres são seres humanos e, assim como outros seres humanos, mostram sinais quando querem ficar sozinhas. Ela está andando rápido? Não está fazendo contato visual com ninguém? Ela está prestando atenção na calçada ou no celular? Se a resposta for sim, então talvez você deva deixá-la ir, ela provavelmente não quer ser incomodada e você deve respeitá-la. Lembre-se, as únicas pessoas que te devem uma conversa são, na melhor das hipóteses, seu terapeuta ou seu advogado.
E se ela não esta caminhando rápido na direção oposta ou deliberadamente evitando olhar para as pessoas na rua? Então talvez não haja problema em aproximar-se (lembre-se, diferentes pessoas reagem às coisas de maneiras diferentes). O mais importante, como é o caso quando se aborda qualquer pessoa, é tratá-la como uma pessoa. Não faça sons de beijo para ela como se fosse um cachorro (nós mulheres geralmente odiamos isso), não imite o som que você acha que o bumbum dela faz quando anda (um “oi” é muito mais eficaz do que “badoombadoombadoom”) e não diga que ela seria mais bonita se sorrisse. Ela sabe a cara que está fazendo e não quer ninguém dizendo que ela deveria mudá-la.
Considerando isso, se aproximar de alguém na rua é complicado. Provavelmente você será dispensado, esteja preparado. Você interrompeu o dia de alguém, pura e simplesmente, então se responderem negativamente, a única coisa que você pode fazer é desculpar-se por incomodar (e fazê-lo rapidamente, sem ser dramático ou criar caso) e educadamente sair de seu caminho tão depressa quanto possível.
Além disso tudo, está escuro na rua? Se estiver, melhor nem tentar.
Em um café
Mais uma vez, preste atenção no que ela está fazendo. Ela está estudando? Digitando apressadamente em seu computador? Se estiver, ela é uma moça com um prazo a cumprir e, interrompendo-a, você corre o risco de ser um idiota. Se você não desistiu, então, o mais importante a fazer é não constrangê-la ou deixá-la desconfortável a ponto de sentir que precisa ir embora. Tente pegar uma mesa que não esteja diretamente em seu campo de visão, desta forma ela não vai precisar desviar o olhar para baixo caso dispense você. Tente se aproximar dela como se estivesse de saída, peça desculpas por interrompê-la (na verdade, a maioria das pessoas não se importa de ser incomodada se você, educadamente, reconhecer a possibilidade de que pode estar incomodando) e dê seu recado com gentileza e confiança. Se ela aceitar, ótimo! Daqui há alguns meses você pode estar discutindo sobre lugares à mesa para o seu casamento indie ou organizando um swingue na casa nova de vocês. Se ela disser que não, gentilmente responda com um “Ok, legal. Só pensei em perguntar.” E, em seguida, deixe-a sozinha.
Se é um lugar que ambos frequentam, muito melhor. Comece dizendo “oi”, aumente para um “tudo bom?” e estabeleça um relacionamento. Dessa forma, quando você convidá-la pra sair, ela vai ser muito mais inclinada a pensar em você como o cara legal do café, e não como o esquisito que sempre tenta interrompê-la enquanto ela lê “A Visita Cruel do Tempo”. Claro, ela ainda pode dizer não e, a menos que ela diga explicitamente o quanto quer sair contigo, batendo uma punheta para você no banheiro enquanto conversam, você tem que desencanar. E lembre-se: ela não é uma vaca. Ela apenas não está interessada.
No transporte público
Lembre-se que as mulheres lidam com o assédio sexual no transporte público o tempo todo. A maioria de nós fica muito atenta quando pega o trem ou ônibus, já que existe uma possibilidade maior de lidar com alguma merda. Não estamos sendo paranóicas ou defensivas quando não queremos falar com você. Estamos lembrando de ontem mesmo, quando alguém literalmente esfregou seu pau nu em nós (ah, segundas-feiras!). É fácil ficar na defensiva e dizer: “Bem, eu nunca faria isso”, mas tente se lembrar de que a maioria de nós não é vidente e não temos idéia do que você faria ou não. Meu ponto é que, se você está cantando meninas no metrô, espere levar um fora. A maioria de nós não gostaria de ser convidada pra sair estando em espaço fechado que é muitas vezes usado como banheiro. Uma vez  um homem no trem comeu um frango inteiro, de luvas, sem tirar os olhos de mim. O transporte público não é um espaço seguro.
Foto de Ed Yourdon no Flickr em Creative Commons - Alguns direitos reservados.
Foto de Ed Yourdon em Flickr de Creative Commons – Alguns direitos reservados.
Mas talvez você viu a mulher dos seus sonhos e quer continuar assim mesmo. Se ela te olhar, educadamente sorria para ela. Ela sorri – e não um sorriso protocolar – de volta para você? Ela mantém abertamente o contato visual com você também? Como eu disse antes, as mulheres são pessoas. Se nós gostamos do que vemos, podemos enviar sinais por nós mesmas (geralmente piscamos muito e lambemos os lábios excessivamente, mas dizem que somos mais tímidas que isso).
Então, você decide ir enfrente e falar com ela. Tente elogiando em algo que não seja físico ou sexual. É mais fácil do que você pensa: “tênis incrível.” Ou: “Isso é uma bolsa-carteiro antiga? Eu estou querendo uma, mas estou preocupado se as alças não vão machucar meus ombros.” (Se ela te deixar experimentar a bolsa, considere fugir com ela. Só porque você não é um pervertido, não significa que você não pode ser um ladrão). Se ela parece aberta à conversar, bata papo amigável e tranquilamente. Se ela não der abertura, sorria educadamente – mais uma vez, educadamente – e deixe-a sozinha. Metade das preocupações que as mulheres têm no metrô é que alguém se sinta no direito de sair nos chamando de vaca só porque não queremos ser incomodadas. Não seja esse alguém.
Ah, e por favor, não se aproxime de nós quando estamos lendo ou ouvindo música. Essas são coisas que fazemos para não sermos incomodadas. Metade das vezes os fones de ouvido que estamos usando não estão nem ligados.
Ela é garçonete em um restaurante
Eu trabalhei como garçonete em um restaurante por muitos anos e vi minhas colegas serem abordadas de várias formas diferentes, e alguns métodos sendo muito mais bem sucedidos do que outros. Se você acha que está realmente fazendo sucesso com a garçonete que te atende, pare e lembre-se que ela talvez não esteja tão na sua, quanto você está na dela. Embora, provavelmente, ela seja uma pessoa adorável na vida real, uma grande parte da renda dela (e de qualquer garçonete) é baseada na capacidade de fazer você e o resto da mesa gostarem dela. Ser legal com você e  fazê-lo sentir-se bem-vindo é o seu trabalho.
Mas talvez você ache que as faíscas estão lá de qualquer maneira. Talvez ela tenha piscado com força, lambido os lábios como eu disse antes (a sério, as mulheres fazem isso o tempo todo). Se for esse o caso, e você quer convidá-la pra sair, vá em frente, mas faça isso apenas depois que a conta foi paga e ela já tiver recebido a gorjeta. É uma merda fazer uma mulher  sentir que sua renda será determinada com base no fato dela querer ou não sair com alguém — mesmo se você esteja fazendo isso involuntariamente. Resolvendo isso antes, você dá a ela a chance de responder sinceramente. Se ela disser não, não leve para o lado pessoal. Como é sempre o caso com estranhos, você não sabe nada sobre sua vida. Ela poder ter um namorado, ela poder ser lésbica, ela pode simplesmente não estar interessada. Então, erga a cabeça, aja com respeito e siga em frente.
Se você está sentado ao lado dela em um avião
Não. Deixe-a em paz. A menos que nós estejamos no 777 da Rihanna ou a sua voz guarde o segredo do emagrecimento rápido, nós não queremos falar com você.
É claro que existem exceções para todos estes conselhos. Talvez seus avós se conheceram quando o seu avô apertou o  seio da sua avó no meio da avenida da cidade. Talvez um de seus amigos conheceu a namorada quando ele a parou para perguntar o que ela estava lendo. Essas coisas podem acontecer. Além disso, pessoas diferentes gostam de coisas diferentes. Seguindo toda essa lista ainda pode acontecer que você ofenda alguém — porque todo mundo tem seus problemas.
Além disso, e eu sei que isso vai contra tudo o que a frenologia diz, mas as mulheres não são idiotas. Na verdade, muitas de nós são realmente muito boas em ler as pessoas. Se as mulheres sempre te respondem como se você fosse esquisito e assustador, então as chances são de que você está agindo como um sujeito esquisito e assustador. O problema é você. Por outro lado, se você fizer um esforço para ser educado, respeitar o nosso espaço e reconhecer que não te devemos nada (porque, oi, não devemos mesmo), então vamos entender assim também. Isso significa que nós vamos com certeza sair com você? Não, mas com certeza aumenta suas chances e isso faz de você muito menos idiota.
Muito longo? Nem leu? Seja educado e respeito o espaço dos outros. Fim.
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Nota da tradutora
Não endosso tudo deste texto. Há algumas ideias que parecem bem radicais. Por exemplo, me parece perfeitamente educado se desculpar por interromper e perguntar o que uma pessoa está lendo — contanto que se esteja atento à possível falta de vontade de interagir da moça — e concordo com a autora, é fácil ver quando alguém não quer conversar. Mesma coisa com os aviões — acho que depende da sensibilidade de não insistir para não constranger.
Mas a ideia principal está clara: nós mulheres, mesmo as mais lindas e irresistíveis, temos o direito a não interagir, e se um cara pretende ser bacana e interessante para as mulheres de maneira geral, não é enchendo o saco de uma especificamente que ele vai conseguir isso. Se esta não estiver interessada, seja educado e aceite o fora sem constrangê-la. E se você for educado, pode ter certeza: desejamos muita boa sorte com as próximas. Sabe como é, algumas feministas são heterossexuais e até dão bola pra rapazes que as paqueram por aí. ;)

Artigo:As relações profissionais no mercado de trabalho doméstico brasileiro mantêm resquícios dos tempos da sociedade escravocrata.

A sexualidade também aparece como campo permeado por preconceito nos discursos analisados. Segundo a autora, a visão que as patroas demonstram ter da classe profissional é a de ser formada por vagabundas – as chamadas “piriguetes” –, ou por evangélicas, tidas como “falsas santas”, que utilizam a religião para se mostrarem boas trabalhadoras. É comum ainda que as empregadas sejam vistas como ameaça de sedução aos maridos.

“Essa imagem foi historicamente construída, pois, no período escravocrata, muitas mulheres eram servas sexuais”, salienta Juliana, acrescentando que a questão está ligada também à imagem da mulher negra no Brasil. Para ela, a sensualização da figura da “mulata” no Brasil abrange fortemente a classe das domésticas, negras em sua maioria. Além disso, a autora salienta que o preconceito também se faz notar por meio da utilização recorrente de expressões como “Ô, raça!”, que revelam uma discriminação velada, enquadrada no mito da democracia racial.

Os discursos também são marcados pela forte diferenciação entre pobres e ricos – e pelo suposto risco que as domésticas representam por se constituírem em elo com regiões periféricas da cidade. “Ela rompe com essa delimitação espacial quando entra nas casas em que trabalha, levando consigo elementos culturais de seu meio”, explica a doutoranda. “Como resultado, as patroas temem, por exemplo, a influência que babás podem exercer sobre seus filhos", lembra a pesquisadora.

O estereótipo rico-pobre emerge também na percepção de que as empregadas desejam os bens materiais das patroas, não podendo, assim, recusar aquilo que lhes é ofertado. “As patroas se consideram boas empregadoras porque dão às domésticas coisas velhas que não usam mais, exercendo práticas que, no fundo, mantêm a hierarquia entre pobres e ricos".

Em geral, domésticas também são consideradas um ônus, pois não geram lucros, como os trabalhadores inseridos em organizações. Aos olhos das patroas, elas trazem apenas prejuízos. “Nesse sentido, é comum encontrar discursos em que se diz: ‘Pago todos os direitos, tudo certinho’, como se isso fosse algo além da obrigação de qualquer empregador”, aponta a autora.

Mudança de cenário
De acordo com Juliana, ao evidenciarem saudosismo em relação ao período da escravidão, os discursos presentes na comunidade evidenciam a reação das patroas diante das mudanças ocorridas nos últimos anos no cenário de trabalho doméstico no Brasil. “Há escassez de domésticas que procuram emprego como mensalistas e crescimento do número de diaristas, o que proporciona maior autonomia a essas mulheres nas relações de trabalho”, ressalta ela, observando que também houve aumento no nível de escolaridade da classe.

Para a pesquisadora, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que garante aos empregados domésticos os mesmos direitos assegurados aos demais trabalhadores – que deverá ser votada nos próximos dias pelo plenário do Senado – é outro fator positivo nesse contexto de transformações, pois busca reparar uma desigualdade histórica. No entanto, em sua opinião, ela não implica necessariamente mudanças na maneira de se construir e representar socialmente a empregada doméstica no Brasil.

O artigo premiado se insere em linha de pesquisa que integra movimento contra-hegemônico no campo da Administração, em geral marcado por estudos mais gerencialistas, direcionados aos problemas de grandes organizações e de seus líderes. Juliana Teixeira faz parte do Núcleo de Estudos Organizacionais e Sociedade (Neos), coordenado pelo professor Alexandre de Pádua Carrieri, que também é seu orientador de doutorado.

A proposta do grupo é articular teorias organizacionais com pensamento social, estabelecendo interfaces com disciplinas como sociologia, antropologia, psicologia, filosofia e linguística. É esse enfoque crítico que permite que empregadas domésticas sejam objeto de investigação nesse campo de pesquisa.

O prêmio Construindo a Igualdade de Gênero é um concurso de redações, artigos científicos e projetos pedagógicos sobre relações de gênero, mulheres e feminismos. Instituída em 2005 pela Secretaria de Política das Mulheres, no âmbito do programa Mulher e Ciência, a premiação é apoiada pelo CNPq, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, pela Secretaria de Educação Básica e pela ONU Mulheres.

(Gabriella Praça)

Texto. https://www.ufmg.br/online/arquivos/027659.shtml

imagem. http://www.juxtapoz.com/current/bodybuilders-world-photos-by-kurt-stallaert
A sexualidade também aparece como campo permeado por preconceito nos discursos analisados. Segundo a autora, a visão que as patroas demonstram ter da classe profissional é a de ser formada por vagabundas – as chamadas “piriguetes” –, ou por evangélicas, tidas como “falsas santas”, que utilizam a religião para se mostrarem boas trabalhadoras. É comum ainda que as empregadas sejam vistas como ameaça de sedução aos maridos.

“Essa imagem foi historicamente construída, pois, no período escravocrata, muitas mulheres eram servas sexuais”, salienta Juliana, acrescentando que a questão está ligada também à imagem da mulher negra no Brasil. Para ela, a sensualização da figura da “mulata” no Brasil abrange fortemente a classe das domésticas, negras em sua maioria. Além disso, a autora salienta que o preconceito também se faz notar por meio da utilização recorrente de expressões como “Ô, raça!”, que revelam uma discriminação velada, enquadrada no mito da democracia racial.

Os discursos também são marcados pela forte diferenciação entre pobres e ricos – e pelo suposto risco que as domésticas representam por se constituírem em elo com regiões periféricas da cidade. “Ela rompe com essa delimitação espacial quando entra nas casas em que trabalha, levando consigo elementos culturais de seu meio”, explica a doutoranda. “Como resultado, as patroas temem, por exemplo, a influência que babás podem exercer sobre seus filhos", lembra a pesquisadora.

O estereótipo rico-pobre emerge também na percepção de que as empregadas desejam os bens materiais das patroas, não podendo, assim, recusar aquilo que lhes é ofertado. “As patroas se consideram boas empregadoras porque dão às domésticas coisas velhas que não usam mais, exercendo práticas que, no fundo, mantêm a hierarquia entre pobres e ricos".

Em geral, domésticas também são consideradas um ônus, pois não geram lucros, como os trabalhadores inseridos em organizações. Aos olhos das patroas, elas trazem apenas prejuízos. “Nesse sentido, é comum encontrar discursos em que se diz: ‘Pago todos os direitos, tudo certinho’, como se isso fosse algo além da obrigação de qualquer empregador”, aponta a autora.

Mudança de cenário
De acordo com Juliana, ao evidenciarem saudosismo em relação ao período da escravidão, os discursos presentes na comunidade evidenciam a reação das patroas diante das mudanças ocorridas nos últimos anos no cenário de trabalho doméstico no Brasil. “Há escassez de domésticas que procuram emprego como mensalistas e crescimento do número de diaristas, o que proporciona maior autonomia a essas mulheres nas relações de trabalho”, ressalta ela, observando que também houve aumento no nível de escolaridade da classe.

Para a pesquisadora, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que garante aos empregados domésticos os mesmos direitos assegurados aos demais trabalhadores – que deverá ser votada nos próximos dias pelo plenário do Senado – é outro fator positivo nesse contexto de transformações, pois busca reparar uma desigualdade histórica. No entanto, em sua opinião, ela não implica necessariamente mudanças na maneira de se construir e representar socialmente a empregada doméstica no Brasil.

O artigo premiado se insere em linha de pesquisa que integra movimento contra-hegemônico no campo da Administração, em geral marcado por estudos mais gerencialistas, direcionados aos problemas de grandes organizações e de seus líderes. Juliana Teixeira faz parte do Núcleo de Estudos Organizacionais e Sociedade (Neos), coordenado pelo professor Alexandre de Pádua Carrieri, que também é seu orientador de doutorado.

A proposta do grupo é articular teorias organizacionais com pensamento social, estabelecendo interfaces com disciplinas como sociologia, antropologia, psicologia, filosofia e linguística. É esse enfoque crítico que permite que empregadas domésticas sejam objeto de investigação nesse campo de pesquisa.

O prêmio Construindo a Igualdade de Gênero é um concurso de redações, artigos científicos e projetos pedagógicos sobre relações de gênero, mulheres e feminismos. Instituída em 2005 pela Secretaria de Política das Mulheres, no âmbito do programa Mulher e Ciência, a premiação é apoiada pelo CNPq, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, pela Secretaria de Educação Básica e pela ONU Mulheres.

(Gabriella Praça)

Texto. https://www.ufmg.br/online/arquivos/027659.shtml

imagem. http://www.juxtapoz.com/current/bodybuilders-world-photos-by-kurt-stallaert

Instituto Arcana convida


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O Grupo de Estudos do Feminino é um grupo aberto à comunidade e se propõe a leitura e discussão de temas relacionados a gênero, cultura e sociedade com ênfase no processo de desenvolvimento da mulher, com entrada franca. De abril a junho de 2013, um tema será tratado.

ABRIL 2013
Mulher, sua biografia e a relação consciente com o dinheiro
Mediação: Eva Elisabete
(pedadoga e aconselhadora biográfica)

A base do trabalho será a Metodologia Biográfica criada pela Drª Gudrun Burkhard. O estudo será feito em quatro encontros com contribuição conceitual, reflexões individuais, trocas de experiências em grupo e expressão artística. Segundo a Antroposofia (Rudolf Steiner) biografia é a história de vida construída por cada um de nós e o seu estudo pode ser feito por meio de um trabalho biográfico - individual ou em grupo, onde são identificados elementos semelhantes na vida de todo ser humano em determinada fase e também são descobertos os elementos individuais ligados ao destino de cada um. Lidar com o dinheiro de forma consciente pode ser um grande desafio na nossa biografia, pois exige maturidade financeira e emocional, mudanças de padrões e crenças, planejamento, organização financeira, visão de futuro. Como esse processo se dá na vida das mulheres é um dos pontos que vamos pesquisar e descobrir juntos. Obs: Este grupo específico é restrito às mulheres!


Quintas (dias 4, 11,18 e 25 de abril) de 19h as 22h
No Instituto Arcana - SCLRN 715 Bloco G loja 49 (rua das oficinas)

Vagas limitadas!
ENTRADA FRANCA
Inscrições no email:  institutoarcana@gmail.com

Saiba mais sobre o Instituto Arcana:
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