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Publicado em 17 de setembro de 2013 |
por Ana Martins
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Em meio às atuais discussões e gritos
contra a sociedade patriarcal e seus resquícios, Salma Ferraz (que é
doutora em Literatura Portuguesa, professora associada de Literatura
Portuguesa da Universidade Federal de Santa Catarina e autora de mais de
vinte livros de crítica literária e ficção) agrupa frases e citações
sexistas no livro “Dicionário Machista – Três mil anos de frases cretinas contras as mulheres”,
que mistura humor e erudição. As declarações que compõem a obra são de
escritores, celebridades, pensadores, músicos e anônimos. Entre eles
estão: Nietzsche, Machado de Assis, Vinicius de Moraes, Marilyn Monroe e
até mesmo Jesus Cristo.
Desta forma, Salma tenta mostrar como a
sociedade patriarcal influencia nos pensamentos e na moral tanto de
homens, quanto de mulheres através de milênios. “Eu ouvia uma coisa ali,
outra aqui, e aí fui juntando tudo e guardando. Achei que reunindo num
dicionário as frases poderíamos ter uma ideia mais seletiva de que como e
o que os homens pensavam sobre as mulheres e até mesmo e o que as
mulheres pensavam sobra elas mesmas”, conta a autora.
Salma afirma que, durante a construção do
livro, conseguiu perceber os avanços da sociedade na questão e que,
mesmo assim, “a conquista deve ser levada adiante”. Ela deixa claro que o
objetivo do livro é expor a estupidez e a irracionalidade das quais o
machismo é feito, “deixar registrado isto, para que sigamos em direção a
um mundo melhor. Demorou 2 mil anos para que as mulheres conquistassem
seu espaço no Ocidente. Sempre digo que a iluminação não tem volta.
Temos que caminhar para a frente. Homens não são superiores às mulheres e
vice-versa.”, completa.
A autora também não deixa passar o
“machismo velado” – que é o mais comum atualmente na sociedade Ocidental
– e diz que é necessário ter cuidado para não se deixar cair nesses
termos. “Existe ainda um ranço de machismo suave, aquele que transforma a
mulher num mero objeto sexual descartável. No Brasil, há outro tipo de
escravidão, a da Bunda, na qual a mulher dança com o rosto voltado para a
parede. Não importa seu nome, só sua bunda que fica voltada para o
público masculino, é o que eu denomino de a hiperbunda midiática”,
finaliza de forma cômica.
Algumas citações presentes no livro são:
Chamar uma mulher de
galinha é uma ofensa. Coitada da galinha, que vive à disposição do galo,
na hora que ele quiser, como uma odalisca num harém. (Carmen Miranda,
cantora e atriz)
“Vais ver mulheres? Não esqueças o açoite”. (Nietzsche)
Não digo que toda mulher goste de apanhar; só as normais. (Nelson Rodrigues)
Existem umas feias potáveis. Mas a maioria só serve mesmo para fazer sabão. (Vinicius de Moraes)
Pouquíssimas são as mulheres capazes de abrigar dois conceitos ao mesmo tempo. (Woody Allen)
Professora não é mal paga, é mal casada. (Paulo Maluf)
“Fraqueza, teu nome é mulher”. (Shakespeare, em Hamlet)
“A mulher, quando pensa, pensa mal”. (Publílio Siro)
Não devemos nos esquecer, porém, que o
ódio, desprezo ou repulsa à mulher e às características que são
associadas a ela, é chamado de “misoginia”. E que o termo “machismo” e
suas variações referem-se ao patriarcalismo da América Latina, é um
termo, portanto, latino. “A misoginia é um aspecto central do
preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante
para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem
(patriarcais). A misoginia é manifesta em várias formas diferentes: de
piadas, pornografia e violência ao autodesprezo que as mulheres são
ensinadas a sentir pelos seus corpos.”, segundo Michael Flood. Olhando
por este ponto de vista, é fácil perceber o sexismo nas entrelinhas do
nosso cotidiano.
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